Terça-feira, 30 de Maio de 2006

Mulheres

 

Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.

 

Elas brigam por aquilo que acreditam.
Elas levantam-se para injustiça.
Elas não levam "não" como resposta quando
acreditam que existe melhor solução.

 

Elas andam sem novos sapatos para
suas crianças poder tê-los.
Elas vão ao medico com uma amiga assustada.
Elas amam incondicionalmente.

 

Elas choram quando suas crianças adoecem
e se alegram quando suas crianças ganham prêmios.
Elas ficam contentes quando ouvem sobre
um aniversario ou um novo casamento.

                               Pablo Neruda

publicado por Cris às 10:50
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Sexta-feira, 26 de Maio de 2006

No mistério do sem-fim

No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

 

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

 

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta

                          Cecília Meireles

publicado por Cris às 23:53
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Quinta-feira, 18 de Maio de 2006

Quando vier me visitar

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Traga flores,
Muitas delas...
Porém, não me traga apenas flores:
Não se esqueça de juntar a elas
A beleza do seu sorriso,
A ternura do seu olhar,
A força do seu abraço.
O calor dos seus beijos...

Quando vier me visitar,
Traga flores,
Muitas delas...
Mas não esqueça de tirar-lhes
Os espinhos que machucam,
As folhas envelhecidas,
Os galhos secos,
As dores embutidas...

Quando vier me visitar,
Traga flores,
Muitas delas...
Perfumadas, coloridas, alegres:
Todas parecidas com você!
Quando vier me visitar,
Traga você por inteira...
As flores?
Nem sei se vai precisar!
              Débora Bellantani

publicado por Cris às 15:11
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Quando era criança

                                                       Jogando, Odila Vallejos

Quando era criança

Vivi, sem saber,

Só para hoje ter

Aquela lembrança.

.

É hoje que sinto

Aquilo que fui.

Minha vida flui,

Feita do que minto.

.

Mas nesta prisão,

Livro único, leio

O sorriso alheio

De quem fui então.

                 Fernando Pessoa

publicado por Cris às 00:21
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Terça-feira, 16 de Maio de 2006

Receita para fazer azul - Nuno Júdice

Gabriela Sánchez
 

Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia
do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu
.

publicado por Cris às 16:45
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Sábado, 13 de Maio de 2006

E ainda as palavras...

Seja alegria, seja mágoa, ciúme

Pena de amor, ou grito de revolta

Tudo a palavra humana em si resume

Tudo arrasta suspenso, à sua volta!

Palavras

Céu e inferno!

Cinza e lume!

Mistério que a nossa alma traz envolta!

Umas, consolação!

Outras, queixume...

- Todas correndo como o vento à solta!

 

Tudo as palavras dizem

A verdade, a mentira, a doçura, a crueldade...

Mas afinal, o que perturba e espanta

É o drama das que nunca foram ditas

Das palavras pequenas e infinitas

Que morrem sufocadas na garganta!

Virgínia Victorino

publicado por Cris às 00:40
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Terça-feira, 9 de Maio de 2006

Palavras

   

       

 

    «São as palavras as que cantam, as que sobem e baixam... Posterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as... Amo tanto as palavras... As inesperadas... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho...

      Persigo algumas palavras... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites em meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágios presentes na onda...

      Tudo está na palavra... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que lhe obedeceu... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes...

      São antiqüíssimas e recentíssimas: Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma.

      Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.»

              Pablo Neruda

 

publicado por Cris às 10:51
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Quinta-feira, 4 de Maio de 2006

Poema à Boca Fechada

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                                                      José Saramago, Galeria Universia

 

Não direi:

Que o silêncio me sufoca e amordaça.

Calado estou, calado ficarei,

Pois que a língua que falo é de outra raça.

 

Palavras consumidas se acumulam,

Se represam, cisterna de águas mortas,

Ácidas mágoas em limos transformadas,

Vaza de fundo em que há raízes tortas.

 

Não direi:

Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,

Palavras que não digam quanto sei

Neste retiro em que me não conhecem.

 

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,

Nem só animais bóiam, mortos, medos,

Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam

No negro poço de onde sobem dedos.

 

Só direi:

Crispadamente recolhido e mudo,

Que quem se cala quando me calei

Não poderá morrer sem dizer tudo.

                                       José Saramago

publicado por Cris às 13:07
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